A saúde pública tem sido apontada, juntamente com a educação e segurança, como os grandes nós a serem desatados pelos gestores públicos. Entretanto, no que concerne ao quesito saúde pública, no meu sentir, o enfoque dado não tem sido o correto. Explico: o que governantes têm feito é tratar as causas da falta de gerenciamento da saúde pública, isto é, a doença. A doença jamais será atendida com presteza e eficácia enquanto a saúde de maneira geral for negligenciada. Não vejo ações que busquem dar qualidade de vida ao cidadão, evitando que ele caia doente e engrosse as filas de atendimento médico nas instituições públicas e particulares.
Dentre as medidas cruciais a serem enfrentadas está o saneamento, que engloba o tratamento de água potável, captação e tratamento de esgoto e a coleta e manejo de resíduos sólidos (lixo). Ora, segundo dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento, em Santa Maria, 98,6% da população é atendida por rede de água potável, mas o tratamento de esgoto atinge tão somente 47,8%. É preciso ressaltar que a grande maioria desatendida pela rede de esgoto é a dos mais vulneráveis social, econômica e culturalmente, o que faz com esta maioria sofra de doenças perfeitamente preveníveis. Mas não pense que o assunto não interessa à classe média, pois todo o Bairro de Camobi não tem rede de esgoto (inclusive a UFSM), colaborando para a poluição ambiental.
Antes que algum desavisado argumente que, dentro do contexto do que é verificado no país e no Estado, Santa Maria está bem colocada no ranking das cidades que dispõe de rede esgoto, isso não resolve o problema, pois este reside no fato e nada tem a ver com estar melhor atendida que outras regiões ou cidades. Lógico que todos temos o direto ao atendimento médico/hospitalar, mas reduzir a saúde pública a simples atenção à doença é miopia social. As filas dos pronto-atendimentos estão intermináveis porque não existe um plano, uma política de atenção às pessoas quando estas estão com saúde.
aS pessoas são deixadas para adoecer para que, depois, tente-se curá-las. O tão sonhado e lutado Hospital Regional está funcionando precariamente e ninguém sabe ao certo quando estará em pleno funcionamento. Mas não tenhamos a ilusão de que o Regional, mesmo em pleno funcionamento, resolverá o problema, porque a "produção" de doentes é frenética. Saneamento básico é esquecido porque é obra que não se inaugura, e a população, embora sofra os efeitos de sua falta, não lhe dá o devido valor e, além do mais, a implantação exige obras que causam transtornos temporários e não se presta ao gestor que - como celebridades - almeja sucesso midiático.
Em Santa Maria, por concessão do município, a responsabilidade pelas redes de água potável e de captação e tratamento de esgoto são da Corsan (Santa Maria é a cidade na qual a Corsan aufere seu maior faturamento), mas esta está subordinada aos interesses do município, que deve exigir o melhor. Em tempo: Ainda não foi explicado o surto de toxoplasmose, que continua, como a espada de Dâmocles, sendo uma ameaça permanente à população.